Aqui fica uma versão revista de um comentário que deixei a propósito deste "post" de Paulo Guinote:
"Deixei de dar aulas no ensino básico e secundário em 2004 e não conheço detalhadamente todos os pormenores do actual modelo de avaliação, por isso tenho-me abstido de comentá-los aqui no blogue do Paulo. Mas o que sei da actividade docente e o que vou acompanhando da discussão levam-me a pensar que se está a elaborar num equívoco (propositado ou não, dependendo dos intervenientes) quando se pretende criar um modelo de avaliação formal e sofisticado para o ensino básico e secundário. A ideia de avaliar o mérito dos profissionais prende-se com a gestão por objectivos, com origem no neoliberalismo. Se faz algum sentido económico, embora arrepie pela desumanidade, que se premeie um operário pelo número de sapatos que produz, já me causa alguma perplexidade que se avalie um professor pela maior ou menor interacção com a comunidade educativa ou pela quantidade de materiais didácticos que realiza para o grupo disciplinar. Isto porque a principal função do docente está na sala de aula, o seu objectivo primeiro é ensinar. E, aqui, coloca-se uma questão de objectividade: como criar critérios universais de avaliação que estabeleçam a excelência? Existe um único perfil de professor excelente? Não será a excelência dependente do meio em que se insere o docente, do nível cultural, social e económico dos alunos, das suas regras de conduta e do seu apetite pelo saber, do maior ou menor apoio da comunidade educativa, do ambiente da escola? E não será também função das características subjectivas de cada um? Para já não falar no facto absurdo de se procurar saber da excelência com 2 ou 3 aulas assistidas…
Quanto a avaliar o docente pelos resultados dos alunos, que seria o mais próximo da gestão por objectivos, acho que estamos todos de acordo que é algo totalmente descabido, que iria gerar enormes injustiças por, obviamente, não existir um meio escolar homogéneo por todo o país, e também por tornar os professores reféns dos alunos, tendo até o próprio ME abdicado de tamanho disparate.
Os professores do ensino superior possuem um método objectivo de avaliação que, embora possa causar efeitos perversos, baseia-se em critérios universais. Mas incide predominantemente no trabalho de investigação, não na actividade docente.
É por isso que, até que alguém consiga mostrar-me o contrário, não acredito que exista um método formal e sofisticado de avaliação para o ensino básico e secundário, que seja sério, justo e credível, para além do que possa estar associado à avaliação dos conhecimentos científicos e que terá o seu momento próprio na formação, seja a inicial, seja a contínua."
No "Correio de Lagos" de Outubro de 2024
Há 13 horas
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