A avaliação de professores, nos moldes sem que é proposta pelo Ministério da Educação, tem sido apresentada pelo poder político vigente como absolutamente indispensável para a melhoria do sistema educativo. Pretende, segundo dizem, premiar os melhores e punir os medíocres. Do meu ponto de vista trata-se de uma fraude. O sucesso dos professores e de um sistema educativo avalia-se pelo grau de literacia de um povo, pelo seu nível cultural, pelos seus conhecimentos científicos e tecnológicos. Avalia-se pela capacidade das pessoas se adaptarem a novas situações e aprenderem novas ferramentas, pelo número de leitores de jornais, livros e revistas, pelo consumo de actividades culturais, pelos hábitos cívicos.
Há inúmeros factores que condicionam o sucesso de um sistema educativo. Talvez o mais fundamental seja a formação de professores, muito mais importante do que construir um modelo mais ou menos sofisticado, mais ou menos burocrático, de avaliação. Antes de avaliar, há que garantir que o avaliado teve a oportunidade de aprender bem. E. aí, há muito por fazer. Nas ciências exactas, que conheço melhor, a formação científica nas vias educacionais é pobre, sendo dada prioridade às áreas das ciências da educação e pedagogia. Assim, os professores são destros na forma, mas parcos nos conteúdos. E que dizer da formação contínua? O anterior modelo de avaliação tinha a virtude de exigir a frequência com aproveitamento de acções de formação, que permitiam, de certo modo, a reciclagem. Por que motivo não se procurou aperfeiçoar e credibilizar esse método?
Outro factor essencial é a motivação e o estatuto social dos professores. Neste aspecto, este Ministério e este governo deram um rude golpe na honorabilidade e no ânimo da classe docente. Directa ou indirectamente, dito de forma explícita ou insinuado, foi-se criando na opinião pública a ideia de que os professores eram privilegiados, preguiçosos e corporativistas, defendidos por sindicatos que tinham tanto de poderosos como de conservadores e imobilistas. O que se conseguiu? Criar "apenas" enormes sentimentos de revolta e injustiça, traduzidos nas duas maiores manifestações de que há memória e, também, na maior greve de sempre.
Um terceiro factor de grande relevância prende-se com as condições de trabalho no terreno. O número de alunos por turma, as condições físicas das instalações escolares, a quantidade e a qualidade do material didáctico (e a formação para o manusear), o número dos funcionários de acção educativa, a existência ou não de psicólogo/a e de professores/as do ensino especial, a qualidade das bibliotecas, os recursos informáticos... Quem, de boa fé, poderá dizer que tudo está feito nesses aspectos, nas nossas escolas?
O governo decidiu tomar o caminho repressivo, escolhendo uma avaliação estreita e punitiva. Preferiu ver os professores como empregados "malandros" em vez de parceiros de corpo e alma. O custo desta visão deformada será suportado por todos nós.
No "Correio de Lagos" de Outubro de 2024
Há 14 horas
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