segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

CCB, Lisboa

O Mérito

Está na ordem do dia a questão do mérito no sistema de ensino básico e secundário português. Não me irei pronunciar sobre o mérito docente, já que penso ser um conceito vago e susceptível de discussões demagógicas, até porque ainda não consegui encontrar em algum lugar uma descrição pormenorizada de como o definir e o avaliar com total objectividade. Interessa-me, sim, falar do mérito discente e dos factores que o condicionam.
Penso que existem factores intrínsecos e extrínsecos que conduzem a um bom desempenho escolar. Dos primeiros, ressalvo a capacidade intelectual, a atitude, a curiosidade e a imaginação, a apetência pelo saber, as capacidades de trabalho, de organização e de concentração, etc... Dos segundos, o ambiente escolar, os professores e factores económicos e sociais que se revelam através de detalhes, mas que podem ter grande influência no aluno, como o ambiente ou disfunção familiares, se possui um espaço próprio para trabalhar com privacidade, se não é sobrecarregado com tarefas de apoio à família, se possui uma biblioteca própria, se usufrui de bens culturais, se frequenta ou não uma escola com graves problemas de indisciplina por estar situada num meio desfavorecido, se contacta habitualmente com marginais como acontece em alguns bairros de risco, se a suas capacidades foram estimuladas desde pequeno, e um sem número de outros factores, que podem ter influência nos factores intrínsecos.
A valorização do mérito deve ser a base de um sistema educativo, sob pena de estarmos a elaborar numa fraude. Por outro lado, é conhecido o facto de Portugal ser o país da UE com maiores desigualdades sociais, como é referido aqui, que diferenciam os que podem, à partida, ter melhor ou pior aproveitamento escolar, através dos factores extrínsecos. A solução que foi encontrada nos últimos anos é típica de uma má consciência e tem sido a de elevar artificialmente os resultados das avaliações dos alunos mais desfavorecidos, seja através da diminuição do grau de exigência, seja através de artifícios legais que permitem, em certas circunstâncias, a passagem de ano com excesso de negativas, seja ainda através do aumento dos níveis finais de disciplina, caso a caso, em reuniões de Conselhos de Turma. Em suma, por um lado, temos tido um modelo de desenvolvimento que cria enormes disparidades económicas e sociais com reflexo no sistema de ensino e, por outro, tentam-se apagar as consequências com medidas de fachada, que apenas agravam o problema. É uma espécie de roda quadrada, que não está a conduzir o país a lado algum.
Claro que há excelentes alunos no nosso sistema de ensino, basta ver aqueles que, todos os anos, entram nos cursos de medicina. Mas seria interessante fazer um estudo sociológico sobre as origens e os recursos desses alunos, para concluir até que ponto existe igualdade de oportunidades para os nossos jovens.
Urge, por isso, actuar nos factores extrínsecos, diminuindo o fosso que separa os que mais têm dos que menos têm, mudando o modelo desenvolvimento, de modo que a cada um caiba de acordo com o seu mérito intrínseco.

revisto às 16h45

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

As Eleições

Quando a sociedade está doente, os extremismos avançam. É esta a ilação que tiro dos resultados das eleições legislativas.
O discurso radical de direita, personificado por Paulo Portas, foi bem recebido por um sector desencantado com o desnorte no PSD, ávido de mostrar um cartão vermelho ao PS e receptivo ao "vão trabalhar malandros" na contestação ao Rendimento Social de Inserção, à ideia já antiga que se combate o crime aumentando o músculo, à contestação oportuna a Maria de Lurdes Rodrigues e a um estilo comunicativo, simpático e arejado do líder.
No outro extremo, a manta de retalhos ideológica que é o BE conseguiu capitalizar bem o descontentamento provocado pela política do governo, nomeadamente na contestação às negociatas para os amigos, ao código laboral, à política educativa, à protecção aos grandes grupos económicos, com uma linguagem radical a sugerir ajustes de contas que encontrou eco em muitos que se sentiram oprimidos e vilipendiados por José Sócrates e os seus ministros. Acresce que a qualidade intelectual dos seus dirigentes, que se revela no discurso elaborado e corrente, atrai muitos dos simpatizantes de esquerda com um maior nível cultural.
A CDU mantém um discurso algo tímido e generalista, que não é tão "fashion" e vende menos, acabando por pagar o preço ao ser relegada para o último lugar na tabela dos partidos parlamentares, apesar de aumentar a votação e ganhar um deputado.
Quanto ao PS, nada a dizer para além do óbvio: sofre um revés provocado pela sua política destes quatro anos, sendo agora obrigado a negociar. Iremos ver como e com quem.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Rato

Lisboa, claro... Mas amarelo, não rosa! Há mais Rato para além da rosa...

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Par Electrão/Positrão

Créditos: LAWRENCE BERKELEY NATIONAL LABORATORY/ SCIENCE PHOTO LIBRARY

Dois fotões entram no topo da câmara, produzindo dois pares electrão/positrão. O primeiro fotão arranca também um electrão de um átomo do gás, que desce para a esquerda. O segundo fotão transfere quase toda a sua energia para o par electrão/positrão, o que faz com que estes curvem menos no campo magnético do detector. De notar que a câmara de bolhas (detector) só é sensível a partículas carregadas, pelo que os fotões são invisíveis.

Enceladus - Scientific American

sábado, 25 de julho de 2009

Sobre a avaliação na Função Pública

Aqui fica uma referência ao post de Paulo Guinote, que desmonta por completo a mentira sobre os números do SIADAP na Função Pública e, em particular, no Ministério da Educação:

quarta-feira, 22 de julho de 2009

A manutenção do poder

Já muitos têm referirdo a promiscuidade entre o poder político e económico, que faz com que não exista uma verdadeira concorrência entre empresas, que protege os grandes grupos económicos e financeiros e que permite a manutenção no poder do “centrão”.
Como quebrar este ciclo… É algo que não se adivinha fácil nem para breve, com as personagens políticas que temos nos partidos do poder e a dificuldade aparente das alternativas em o exercerem. Só uma maior cultura em geral, e democrática em particular, do povo português se poderia traduzir num maior espírito crítico e numa maior exigência face aos políticos que nos governam. Mas isso é uma tarefa de gerações, dado o ponto de partida e não parece que o poder político actual esteja empenhado nessa mudança.
De facto, acho mesmo que as políticas educativas que têm sido implementadas nestes últimos anos não têm o sentido de melhorar genericamente o nível cultural do nosso povo, mas seguem uma lógica de manutenção de poder, diminuindo a intervenção democrática dos actores educativos e alimentando o compadrio e o seguidismo. Perante a capa da meritocracia, incentivam a competição e o individualismo onde antes existia colaboração e solidariedade (como sublinhou Lídia Jorge), com as inevitáveis consequências no avanço da mediocridade. Promovem os aspectos formais e burocráticos em vez de premearem a autenticidade, com a subsequente teia de cumplicidades. Seguem uma lógica de resultados aparentes, sem ter em conta ao que correspondem na substância, criando a ilusão de progressos mas sem que mude, de facto, o status quo.
Tudo isto ocorre com o beneplácito de alguma comunicação social, ela própria sob a alçada do poder económico, quiçá com interesses inconfessáveis.
Mas a realidade, por vezes, surpreende-nos e não é de descartar a possibilidade de, perante este panorama fatalista e aparentemente irreversível, existir uma solução ao virar da esquina. Talvez essa esquina seja 27 de Setembro próximo.

domingo, 21 de junho de 2009

Fonte Nova

A ausência de carros desanuvia o espírito. Terminaram, recentemente, as obras junto ao Centro Comercial Fonte Nova, em Benfica, e os automóveis foram expulsos dos passeios. A sensação é de horizontes alargados.

Jardim Botânico IV

Com uma máquina nova.



quarta-feira, 20 de maio de 2009

Jardim Botânico - II

A Professora de Espinho

A famosa gravação de Espinho, em que uma professora se dirige aos alunos de um modo grosseiro e perverso, demonstra bem os novos tempos em que vivemos. Tempos em que todos corremos o risco de, por uma falha mais ou menos grave, sermos sujeitos à exposição pública, à crítica e mesmo à chacota geral. E, quando digo "geral", não me refiro aos colegas de trabalho, ou ao círculo de amigos e conhecidos mais próximos, mas sim a todo um país e além, sem que possamos fazer absolutamente nada para nos defendermos, direito à defesa esse que, por princípios morais e éticos, é, teoricamente, próprio de qualquer um.
São tempos em que todos, ou quase, vigiam todos. Tempos em que os fins justificam os meios e em que o risco de exposição mediática se está a transformar num autentico mecanismo de auto censura totalitário. É o pesadelo de "1984", de George Orwell, que se adivinha próximo.
Do meu ponto de vista, o assunto teria que ser resolvido na escola. Com a professora, os alunos, os encarregados de educação, os colegas, eventualmente a Inspecção Geral de Educação e, se existisse matéria para procedimento disciplinar, que se actuasse. Não foi isso que aconteceu. Pelo contrário, os alunos fizeram justiça pelas suas próprias mãos, o que mostra até que ponto a escola lhes está entregue.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Jardim Botânico - I

Possuo uma lente zoom 70-300 mm, que permite fazer macro, mas raramente a uso nessa opção. Inspirado nos "Bons dias" de Paulo Guinote, decidi romper a tradição e dar um salto até ao Jardim Botânico, em Lisboa. Aqui fica o resultado, que irei publicando.

sábado, 25 de abril de 2009

25 de Abril

Desfile do 25 de Abril de 2009
Um homem na cidade

Agarro a madrugada
como se fosse uma criança
uma roseira entrelaçada
uma videira de esperança
tal qual o corpo da cidade
que manhã cedo ensaia a dança
de quem por força da vontade
de trabalhar nunca se cansa.

Vou pela rua
desta lua
que no meu Tejo acende o cio
vou por Lisboa maré nua
que se deságua no Rossio.

Eu sou um homem na cidade
que manhã cedo acorda e canta
e por amar a liberdade
com a cidade se levanta.

Vou pela estrada
deslumbrada
da lua cheia de Lisboa
até que a lua apaixonada
cresça na vela da canoa.

Sou a gaivota
que derrota
todo o mau tempo no mar alto
eu sou o homem que transporta
a maré povo em sobressalto.

E quando agarro a madrugada
colho a manhã como uma flor
à beira mágoa desfolhada
um malmequer azul na cor.

O malmequer da liberdade
que bem me quer como ninguém
o malmequer desta cidade
que me quer bem que me quer bem!

Nas minhas mãos a madrugada
abriu a flor de Abril também
a flor sem medo perfumada
com o aroma que o mar tem
flor de Lisboa bem amada
que mal me quis que me quer bem!

Ary dos Santos

Tirado daqui

quinta-feira, 16 de abril de 2009

O Ensino da Matemática

As aplicações da Matemática são infindáveis. Tal deve-se ao facto de ser uma ciência abstracta, onde as definições, proposições, lemas, teoremas... não possuem um contexto explícito, e, por isso, encaixam nos mais variados domínios, apesar do conhecimento matemático ser tão real como qualquer outro.
Mas esta abstracção formal não surge do nada. São inúmeros os exemplos da interacção entre a Física e a Matemática, como a génese do cálculo diferencial e integral, ligado aos estudos da cinemática e da dinâmica iniciados por Galileu e aprofundados por Newton e Leibniz, ou a teoria dos operadores em espaços de Hilbert, sistematizada por Von Neumann com a Mecânica Quântica em vista, ou ainda a teoria das distribuições, cuja existência foi sugerida em primeiro lugar por Heaviside nos circuitos eléctricos e Dirac também na formalização da Mecânica Quântica. Para dar um exemplo mais extremo, temos o próprio conceito de número, que muito provavelmente terá nascido para contar as ovelhas dos pastores do Neolítico e hoje possui uma disciplina inteiramente dedicada ao seu estudo. Só mais tarde, depois da génese destas ideias inspirada no mundo natural, se partiu para uma formalização totalmente abstracta destes conceitos, que hoje têm vida própria.
Do meu ponto de vista, o mesmo se passa no ensino da Matemática. Para iniciar os alunos em conceitos como os números inteiros, de fracção, de múltiplo, mínimo múltiplo comum, número real, número complexo, potência, logaritmo, derivada... há que começar pelo mundo concreto, que foi onde inicialmente surgiram. Houve uma razão histórica, uma necessidade, que levou alguém, ou várias pessoas em simultâneo, a descobrir essas noções e a obter resultados a partir delas.
Depois do "ahhh!" da motivação, segue-se o treino, os automatismos, de modo que, ao prazer da descoberta, se siga a vantagem da mestria na utilização. Posteriormente, sem que termine a fase do treino, há a fase da formalização abstracta, com a ausência de protecção do suporte concreto, de maneira a que os alunos se sintam confortáveis em trabalhar com noções sem um contexto específico.
Esta relação entre a descoberta científica e a descoberta que resulta da aprendizagem é essencial. Um professor deve estar sempre consciente das dificuldades que se colocam a quem se propõe aprender algo novo. Todos nós fomos alunos e passamos por essa experiência, mas é algo que se esquece, se não for vivido permanentemente. Assumimos facilmente o novo papel arrogante de detentores da verdade e do conhecimento, esquecendo o quão difícil é, por vezes, assimilar novas ideias e noções, principalmente quando nunca se foi confrontado com a necessidade da sua existência.
É por isso que penso que haveria toda a vantagem se os professores do ensino básico e secundário estivessem mais envolvidos na investigação sobre as suas áreas curriculares. Pelas razões que apontei e também porque isso obrigaria a uma actualização científica permanente.

terça-feira, 14 de abril de 2009

A reforma de 1994 dos Currículos de CFQ

Aqui fica um comentário que deixei neste "post" do blogue "A Educação do Meu Umbigo"

A questão do ensino da electrónica em CFQ, no 8º ano do básico, revela bem o desacerto habitual do ME com a realidade nas escolas. Sendo eu formado em Física e tendo alguns conhecimentos em circuitos electrónicos, não me foi difícil adaptar à reforma curricular de então, no que diz respeito aos conteúdos teóricos. O mesmo não se pode dizer dos colegas formados em Química, a maioria dos Profs de CFQ do 3º ciclo. Passou-se algo semelhante com a introdução da Astronomia nos currículos. No reverso, estava a componente laboratorial de Química, tendo eu procurado inúmeras vezes acções de formação na área, sem sucesso. O problema é que a reforma não foi acompanhada de formação massiva para actualização científica dos docentes.
Por outro lado, as escolas não possuiam os componentes electrónicos necessários para a realização dos tais circuitos previstos no programa, como os alarmes ou termostatos, nem foram previstas verbas para os adquirir, o que inviabilizava logo à partida a componente prática exigida, fundamental para o sucesso da aprendizagem e para o cumprimento das directrizes programáticas.
Em suma, fez-se uma reforma no papel, burocrática, ignorando-se as condições no terreno, como se algo se tornasse real só por estar escrito num decreto.

sábado, 11 de abril de 2009

Dark Energy

Paimogo


Forte de Paimogo, Lourinhã

Magalhães

De nada serve uma caneta se não se souber escrever. O Magalhães seria um medida interessante se fosse um detalhe numa política educativa coerente e com rumo. O que parece ser é uma medida avulsa, mais de show-off propagandístico do que outra coisa. Não nego o mérito de permitir o acesso a ferramentas informáticas a quem que, de outro modo, dificilmente as teria. Mas o que é essencial e parece faltar é o estímulo à inteligência, à criatividade e à vontade de aprender dos nossos alunos, que se consegue com currículos disciplinares motivantes e uma formação de professores (inicial e contínua) à altura e também com uma carreira docente aliciante, medidas enérgicas e eficazes de combate à indisciplina, o aprofundar da autonomia das escolas e a democraticidade na sua gestão, a disponibilidade de recursos didácticos e a formação para os utilizar… E, a esse nível, tudo ou quase tudo está por fazer ou a ser desfeito.

domingo, 29 de março de 2009

Matematico de Origem Russa Ganha Prémio Abel

Russian-born mathematician wins math's version of the Nobel: Scientific American

Geometer Mikhail Gromov has won the 2009 Abel Prize, a sort of math analogue to the Nobel Prizes, the Norwegian Academy of Science and Letters announced yesterday. (The Swedes famously do not administer a Nobel in mathematics, so the Norwegians jumped in with the Abel in 2003.) The Russian-born Gromov, 65, of the Institut des Hautes Études Scientifiques in Bures-sur-Yvette, France, receives six million Norwegian kroner (about $925,000) as part of the prize. Gromov also holds an appointment at New York University.

The mathematician has extended the notion of shape and distance to seemingly foreign and abstract settings; his work has been essential to the progression of branches of geometry known as Riemann geometry and symplectic geometry. Gromov has also helped pioneer geometric group theory, a discipline that relates geometry to the algebraic field of group theory, and has seen his work push along the theoretical evolution of string theory[...]

Continuar a ler

Foto de Gromov: Gérard Uferas/The Abel Prize/The Norwegian Academy of Science and Letters

sexta-feira, 6 de março de 2009

O Diario.info - O Movimento Comunista no Séc. XX

Doménico Losurdo* 27.02.09

"Como resumir o balanço histórico do movimento comunista no século que passou? Hoje em dia, o discurso acerca da sua “falência” é tão pouco discutido que não chega a suscitar objecções, nem mesmo na esquerda. A ideologia e a historiografia actualmente dominantes parecem querer compendiar o balanço de um século dramático numa historieta edificante, que pode resumir-se deste modo: no princípio do século XX, uma rapariga fascinante e virtuosa, a menina Democracia, foi agredida, primeiro por um bruto, o senhor Comunismo, a seguir por outro, o senhor Nazi-Fascismo; aproveitando as contradições entre eles e através de peripécias complexas, a jovem consegue por fim libertar-se da terrível ameaça; tornando-se entretanto mais madura mas sem nada perder do seu fascínio, a menina Democracia consegue coroar o seu sonho de amor pelo casamento com o senhor Capitalismo; rodeado pelo respeito e a admiração gerais, o feliz e inseparável casal gosta de levar a vida principalmente entre Washington e Nova Iorque, entre a Casa Branca e Wall Street. Assim sendo, não há mais lugar a dúvidas: é evidente e inglória a falência do comunismo

Os comunistas e a luta contra a discriminação racial.

Acontece porém que esta historieta edificante nada tem a ver com a história real. A democracia contemporânea baseia-se no princípio segundo o qual cada indivíduo deve ser considerado titular de direitos inalienáveis, independentemente da raça, do nível de rendimentos e do género, e pressupõe portanto a superação das três grandes discriminações (racial, censitária e sexual) que subsistiam ainda nas vésperas de Outubro de 1917[...]"

Continuar a ler

* Filósofo e historiador, Professor da Universidade de Urbino, Itália

Obrigado ao António Chaves Ferrão

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

TO THE ROSE UPON THE ROOD OF TIME

RED Rose, proud Rose, sad Rose of all my days!
Come near me, while I sing the ancient ways:
Cuchulain battling with the bitter tide;
The Druid, grey, wood-nurtured, quiet eyed,
Who cast round Fergus dreams, and ruin untold;
And thine own sadness, whereof stars, grown old
In dancing silver-sandalled on the sea,
Sing in their high and lonely melody.
Come near, that no more blinded by man's fate,
I find under the boughs of love and hate,
In all poor foolish things that live a day,
Eternal beauty wandering on her way.

Come near, come near, come near -- Ah, leave me still
A little space for the rose-breath to fill!
Lest I no more hear common things that crave;
The weak worm hiding down in its small cave,
The field-mouse running by me in the grass,
And heavy mortal hopes that toil and pass;
But seek alone to hear the strange things said
By God to the bright hearts of those long dead,
And learn to chaunt a tongue men do not know
Come near; I would, before my time to go,
Sing of old Eire and the ancient ways:
Red Rose, proud Rose, sad Rose of all my days.

W. B. Yeats (1865-1939)

Tirado daqui

domingo, 22 de fevereiro de 2009

A living fossil found in Namibia: Scientific American


A living fossil found in Namibia: Scientific American

"Researchers have discovered two living species—so recently that they have yet to be named—of this Alavesia fly, a genus that had previously only been seen preserved in Cretaceous-era amber in Spain and Burma. The flies, captured in dry streambeds along Namibia's highest mountain, the Brandberg Massif, have wings only about 0.08 inch (two millimeter) long. The discovery came out of a 2002 bug inventory on the plateau-like mountain (which predates the separation of the southernmost four continents) that also yielded a new suborder of carnivorous insects known as Mantophasmatodea. The new species of this ancient "dance fly" genus were only recognized by researchers Bradley Sinclair, an entomologist at the Canadian Food Inspection Agency, and Ashley Kirk-Spriggs, who leads the Entomology department at the South Africa National Museum, in 2007."


Henri Goulet/Canadian National Collection of Insects, Ottawa

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Valência

Num café em Valência, Espanha

DREN desmente "obrigação" dos professores em participarem no desfile de Carnaval

Notícia do "Púbico":

"A directora regional de Educação do Norte, Margarida Moreira, garantiu ontem à Lusa que nenhum professor de Paredes de Coura foi obrigado a participar no desfile de Carnaval. Sublinhou, no entanto, "que o cortejo teria forçosamente que sair à rua".
"A DREN [Direcção Regional de Educação do Norte] nunca mandou alterar uma decisão do Conselho Pedagógico do agrupamento. Apenas determinou que o cortejo teria que ser feito, fosse com os professores, fosse com os pais, fosse com a comunidade, fosse com a própria DREN", frisou Margarida Moreira[...]"

Bom jogo de palavras, para fugir ao essencial, que foi a intimação dos professores para que o desfile se realizasse, fazendo tábua rasa de uma decisão da escola. Porque não tomou, então, a DREN a iniciativa de organizar o desfile?
Do meu ponto de vista, configura uma certa falta de honestidade intelectual, de quem quer dourar a pílula, ou virar o bico ao prego.

Comentário em "Ferrao.org"

Aqui fica um comentário que deixei no blogue "Ferrao.org".

"É verdade que o sistema soviético ruiu. No entanto, serviu durante muitos anos de contrapeso ao capitalismo selvagem. Não nos esqueçamos que muitos dos direitos que hoje temos na Europa ocidental, a que alguns hipocritamente chamam privilégios, se devem aos ideais socialista e comunista, materializados através das lutas sindicais e de massas. As ferias pagas, o 13º mês, o fim de semana, o acesso universal à educação e à saúde, só para dar alguns exemplos, não foram dados de mão beijada pelo sistema capitalista, desde o séc XIX até hoje.
O que falta descobrir é um sistema económico e social sem os caracteres economicamente opressivo do sistema capitalista e individualmente opressivo do sistema soviético.
Quanto a Cuba, comparada com outros países da América Central e do Sul, atingiu grandes vitórias. Dir-se-á, a um preço demasiado alto na limitação da liberdade individual... Mas será uma longa discussão sobre o que é e o que condiciona a liberdade individual. Nesse sentido, também os EUA têm a sua quota parte de limitação da liberdade individual."

Solidariedade com Paredes de Coura

IOL Diário (Foto de Arménio Belo/Lusa)

Tirado daqui

Comentário meu de 18 de Fevereiro neste "post" do blogue "Fliscorno":

"Os professores devem, antes de mais, dar aulas. Esta verdade de La Palice anda muito esquecida no nosso ensino. É preciso conhecer a realidade das escolas para perceber como os docentes se desdobram em preparação de aulas, correcção de testes, apoios curriculares e extra curriculares, reuniões de avaliação, reuniões intercalares, encontros com os encarregados de educação, visitas de estudo, apoio à biblioteca, apoio à ludoteca, aulas de substituição, reuniões do conselho pedagógico, reuniões do conselho de directores de turma, reuniões de departamento... para além de, entretanto, darem aulas.
Como se não bastasse, têm agora o monstro burocrático da avaliação.
Compreendo perfeitamente esta tomada de posição e gostava, sinceramente, que não cumprissem a ordem prepotente (com que direito?) da DREN de obrigar à realização do desfile, como foi noticiado hoje na TV."

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Ministério Público proíbe sátira ao Magalhães no Carnaval de Torres Vedras

Notícia do "Público"

O presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras foi entrevistado ontem no "Jornal das Nove". De acordo com Carlos Miguel, a acção do Ministério Público foi desencadeada por uma denúncia e a própria procuradora ficou embaraçada quando lhe foi mostrada a "prova do crime".
O que é estranho é como se dá por adquirida uma denúncia sem se procurar confirmar ou desmentir a mesma. Não me espantava que o autor da queixa se tivesse movido por razões políticas, talvez incomodado com a sátira, mas é confrangedor que o Ministério Público mostre tamanha ingenuidade, deixando-se manipular. Parece que vivemos num país de faz-de-conta, com aprendizes de feiticeiro por todo o lado.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Gondolieri

Veneza

"A Escola tem futuro?" - João Ruivo

Editorial de Fevereiro da revista "Ensino Magazine".

"[...]É que não há Escola contra a Escola. Não há progresso que se trilhe contra os profissionais da educação. Não há políticas educativas sérias a gosto de birras e conjunturas que alimentam os egos pessoais de alguns governantes. Não há medidas que tenham futuro se não galvanizarem na sua aplicação os principais agentes das mudanças educativas: os educadores e os professores[...]"

Texto completo aqui

A pedagogia do fracasso

Texto muito interessante do "Times Online" sobre a realidade Britânica, mas que poderá ter afinidades com o que se passa em Portugal. Tomei conhecimento deste artigo através do blogue "A Educação do Meu Umbigo".

"There is a conspiracy to deny children the vital lesson of failure"

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

AC

Hotel Roma, Lisboa

"Avaliar Professores é Fácil?" - João Ruivo

Editorial da edição de Dezembro de 2008 da revista "online" Ensino Magazine.

"Não! A avaliação de professores não é uma tarefa simples. Que o digam os supervisores que, durante décadas, promoveram a formação inicial e permanente dos nossos docentes. Para avaliar professores requerem-se características pessoais e profissionais especiais, para além de uma formação especializada e de centenas de horas de treino, dedicadas à observação de classes e ao registo e interpretação dos incidentes críticos aí prognosticados.
Cuidado com as ratoeiras! Quem foi preparado para avaliar alunos não está, apenas pelo exercício dessa função, automaticamente preparado para avaliar os seus colegas…
A avaliação de professores é uma tarefa complexa. Desde logo, requer um perfil específico do avaliador. Ou seja, nem todos os professores reúnem as condições para avaliarem. O avaliador terá que ser uma pessoa com conhecimentos especializados, com enorme sensibilidade, com capacidade analítica e de comunicação empática, com experiência de ensino e elevada responsabilidade social. Terá que ser um profissional que sabe prestar atenção, sabe escutar, sabe clarificar, sabe encorajar e ajudar a encontrar soluções, sabe dar opiniões, e que sabe ainda negociar, orientar, estabelecer critérios e assumir todo o risco das consequências da sua acção.
É necessário que domine com rigor as técnicas de registo e de observação de aulas, conheça as metodologias de treino de competências, os procedimentos de planeamento curricular, e as estratégias de promoção da reflexão crítica sobre o trabalho efectuado.
Escolher um avaliador obriga a uma selecção aturada, fundamentada, baseada em critérios de indiscutível mérito e, depois, a uma demorada formação específica e especializada. Para que uma avaliação tenha consequências, o avaliado não pode ter quaisquer dúvidas sobre o mérito do avaliador.
Avaliar é uma tarefa periscópica. O avaliador é chamado a pronunciar-se sobre inúmeros domínios sobre os quais se reflecte o pluridimensional acto de ensinar. Quando avalia, olha o professor sobre variadíssimos ângulos e prismas: aprecia o professor enquanto pessoa, como membro de uma comunidade profissional, como técnico qualificado na arte de ensinar e como especialista das matérias que ensina.
Por outras palavras o avaliador avalia o professor em vertentes tão diferenciadas quanto o são o seu ser, o seu saber e o seu saber fazer. Logo, o avaliador tem que estar atento a um grande número de variáveis que intervêm na função docente: variáveis de produto, de processo, de presságio, de carácter pessoal e profissional…
O avaliador recolhe elementos que permitam avaliar, e depois classificar, o professor enquanto tenta responder às seguintes questões: Onde ensina? O que é que ele ensina? Como é que ensina? O que aprendem os seus alunos? Como se auto avalia? Que capacidade tem para reformular a sua actuação? Com que profundidade domina as matérias que pretende ensinar?
O avaliador não trabalha com o professor apenas na sala de aula. Ele tem que apreender o modo como o professor se envolve com os seus alunos numa situação de classe, mas também como este se implica junto da comunidade escolar e na sociedade que envolve a escola. Porque trabalha com ele como profissional, mas também enquanto pessoa.
Formar um avaliador leva tempo, elevadas doses de paciência, muito treino e conhecimento especializado. A escolha de um avaliador não pode ser casual e, sobretudo, não pode depender de critérios político administrativos.
Porquê? Porque o avaliador tem que saber verificar não só o que os professores fazem, mas também como o fazem e, simultaneamente, garantir a melhoria da qualidade da sua intervenção na sala de aula, bem como a qualidade do produto, isto é, da aprendizagem dos alunos.
Por isso mesmo a avaliação de um professor não pode ser uma actividade episódica, pontual e descontinuada. A avaliação de um professor requer uma actividade continuada, porque importam mais as actividades de reformulação que venham a ser consideradas do que o simples diagnóstico da sua actual situação. A avaliação de um professor é então uma actividade projectada no futuro.
Avaliar um professor é, pois, dizíamos, uma tarefa muito, mesmo muito complexa. Simples, muito simples mesmo, é avaliar um ministro que pensa ser possível reduzir a avaliação dum professor a uma mera empreitada administrativa, compilada em duas páginas de panegíricos ou de recriminações."

João Ruivo

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Comentário em "A educação do Meu Umbigo"

Aqui fica uma versão revista de um comentário que deixei a propósito deste "post" de Paulo Guinote:


"Deixei de dar aulas no ensino básico e secundário em 2004 e não conheço detalhadamente todos os pormenores do actual modelo de avaliação, por isso tenho-me abstido de comentá-los aqui no blogue do Paulo. Mas o que sei da actividade docente e o que vou acompanhando da discussão levam-me a pensar que se está a elaborar num equívoco (propositado ou não, dependendo dos intervenientes) quando se pretende criar um modelo de avaliação formal e sofisticado para o ensino básico e secundário. A ideia de avaliar o mérito dos profissionais prende-se com a gestão por objectivos, com origem no neoliberalismo. Se faz algum sentido económico, embora arrepie pela desumanidade, que se premeie um operário pelo número de sapatos que produz, já me causa alguma perplexidade que se avalie um professor pela maior ou menor interacção com a comunidade educativa ou pela quantidade de materiais didácticos que realiza para o grupo disciplinar. Isto porque a principal função do docente está na sala de aula, o seu objectivo primeiro é ensinar. E, aqui, coloca-se uma questão de objectividade: como criar critérios universais de avaliação que estabeleçam a excelência? Existe um único perfil de professor excelente? Não será a excelência dependente do meio em que se insere o docente, do nível cultural, social e económico dos alunos, das suas regras de conduta e do seu apetite pelo saber, do maior ou menor apoio da comunidade educativa, do ambiente da escola? E não será também função das características subjectivas de cada um? Para já não falar no facto absurdo de se procurar saber da excelência com 2 ou 3 aulas assistidas…
Quanto a avaliar o docente pelos resultados dos alunos, que seria o mais próximo da gestão por objectivos, acho que estamos todos de acordo que é algo totalmente descabido, que iria gerar enormes injustiças por, obviamente, não existir um meio escolar homogéneo por todo o país, e também por tornar os professores reféns dos alunos, tendo até o próprio ME abdicado de tamanho disparate.
Os professores do ensino superior possuem um método objectivo de avaliação que, embora possa causar efeitos perversos, baseia-se em critérios universais. Mas incide predominantemente no trabalho de investigação, não na actividade docente.
É por isso que, até que alguém consiga mostrar-me o contrário, não acredito que exista um método formal e sofisticado de avaliação para o ensino básico e secundário, que seja sério, justo e credível, para além do que possa estar associado à avaliação dos conhecimentos científicos e que terá o seu momento próprio na formação, seja a inicial, seja a contínua."

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Sozinho


Nazaré, em Dezembro

Software Livre para Windows

Os utilizadores de Linux estão habituados a ter acesso a uma panóplia de software sem qualquer custo, para além, obviamente, do associado à aquisição do computador. Além disso, quase todos os programas de Linux são de código aberto ("open source") o que significa que qualquer utilizador que perceba de programação pode ter acesso ao código-fonte em questão e modificá-lo, seja para corrigir "bugs", seja para adicionar funcionalidades. Claro que, por razões evidentes, o mesmo não se passa na maioria dos casos em ambiente Windows, já que os programas são pagos. No entanto, há honrosas excepções. Desde já, o projecto OpenDisc oferece software de código aberto, com programas como o "Gimp", para desenho e processamento de fotos, o "FileZilla", um óptimo cliente ftp ou o "Azureus", um cliente BitTorrent. O famoso "Firefox" também lá está, assim como o "Celestia", um simulador astronómico, o "7-Zip", um excelente compressor e descompressor de ficheiros, o "Audacity", um editor áudio, entre outros.
Para quem procura um substituto sem custo ao "Office" da Microsoft tem o não menos famoso "OpenOffice" com uma versão em português que inclui dicionário. Para os que se querem iniciar na programação ou para os já iniciados há uma série de compiladores grátis sob o nome de "gcc", que é a suite de compiladores padrão em Linux. Existem pelo menos dois métodos de instalar o "gcc" em Windows: através do "MinGW", ou através do "Cygwin". Este último é uma versão de Unix que corre em Windows, que permite tirar partido de muitas das potencialidades desse Sistema Operativo, para quem não quer ou não pode prescindir do da Microsoft. No entanto, há que dizer que o "gcc" não possui interface gráfica, o que significa que todas as instruções devem ser dadas numa janela de comandos. Porém, o programa "DevCpp" permite fazer a ponte entre o "gcc" e o ambiente de janelas típico do Windows.
A lista já vai um pouco longa, mas está deveras incompleta. Menciono apenas mais um programa, o "pdfcreator", que permite converter para formato pdf inúmeros tipos de ficheiros.
Vou juntar estes links numa lista, que irá sendo actualizada...

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Linux

Existem alternativas sem custo aos sistemas operativos comerciais, em particular os da Microsoft. O Linux é uma das mais populares, existindo em inúmeras versões. Fedora, Ubuntu, Suse, Mandriva, Debian, Knoppix são algumas das distribuições mais comuns e que constituem também o cerne em que se baseiam muitas outras variantes.
O Linux disponibiliza um número infindável de aplicações e programas, virtualmente a custo zero, desenvolvidos por uma imensa comunidade que se baseia na ideia de partilha. Excepto em algumas áreas muito específicas, como o tratamento de imagem e vídeo profissionais, todo o software pago que corre em ambiente Windows tem a versão correspondente para Linux, por vezes com vantagem. Além disso, o Linux exige mais do utilizador, o que força a aprendizagem, tanto do sistema operativo em si, como da arquitectura do pc e dos periféricos.
É possível instalar num computador dois ou mais sistemas operativos em simultâneo, pelo que podemos ter o melhor dos dois mundos. Mais, é ainda possível experimentar o Linux sem proceder a qualquer alteração no disco rígido, visto que a maioria das distribuições possuem versões "Live", que correm a partir de um cd ou dvd. Este método é particularmente útil no caso em que se tem uma máquina nova, já que há sempre um certo atraso da comunidade "opensource" em actualizar o SO relativamente ao equipamento de última geração.
A instalação definitiva do Linux exige a formatação (parcial ou total) do disco rígido, pelo que se aconselha o "backup" de dados, para o caso de algo correr mal.

Música e Jogos de Computador

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Ainda a avaliação: mais uma reflexão de um "outsider"

Têm sido usados inúmeros argumentos para justificar a avaliação dos professores no ensino básico e secundário. Um deles indica o exemplo do ensino superior, onde os professores são sujeitos a avaliações periódicas, seja para renovação de contrato, seja para progressão na carreira. Este exemplo parece-me falacioso, já que que avaliação destes docentes incide essencialmente no trabalho de investigação científica: quantos artigos publicaram e em que revistas, se de referência ou não, qual o número de citações de cada artigo pelos pares, quantas palestras ou seminários efectuaram, etc... Tanto quanto sei, a prestação de provas para progressão na carreira exige também a apresentação pública de um trabalho de investigação original. Só muito lateralmente o trabalho pedagógico como docente contribui para a avaliação. Poderemos argumentar que talvez fosse desejável que tivesse mais peso, mas os factos são estes.
Acontece que, como todos sabemos, os professores do ensino básico e secundário, regra geral, não estão ligados à investigação nas suas áreas curriculares, o que os torna um caso substancialmente diferente dos seus colegas do ensino superior e coloca logo à partida um problema de relevo: o da objectividade da avaliação. Todos nós tivemos bons e maus professores, uns de que gostámos muito e outros que detestámos, pelo que temos uma ideia empírica do que é um bom professor, ou mesmo um excelente professor. Mas será isso quantificável? Será que alguém que é um excelente professor num dado contexto de uma turma que seja ávida de saber e que tenha regras de conduta, não poderá ser um professor mediano ou mesmo incapaz de exercer a sua profissão numa turma com problemas sociais e económicos graves? E deveremos penalizar ou favorecer o avaliado pelo meio em que se insere?
Como quantificar e, portanto avaliar com total objectividade, muito mais do que o nível dos conhecimentos científicos, sem entrar em juízos de valor sobre a personalidade de cada um? E é através de 2 ou 3 aulas assistidas que se irá decidir sobre o trabalho de anos e perceber se um dado professor é excelente? Não será um excelente professor alguém que domina solidamente os conteúdos científicos, tem capacidade de os transmitir e cativa os alunos através dessa solidez, quando tal é possível? E não será também um excelente professor alguém que, com menos solidez científica, consegue ainda assim aproximar-se e interagir com os alunos mais difíceis, "agarrando-os"?
É por isso que, do meu ponto de vista, a avaliação dos professores do ensino básico e secundário deve possuir uma natureza muito mais informal que a dos colegas do ensino superior. Uma avaliação de índole essencialmente formativa, que detecte falhas e ajude a corrigi-las, com a excepção de momentos periódicos de formação para efeitos de actualização científica e pedagógica.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Porquê a Avaliação de Professores?

A avaliação de professores, nos moldes sem que é proposta pelo Ministério da Educação, tem sido apresentada pelo poder político vigente como absolutamente indispensável para a melhoria do sistema educativo. Pretende, segundo dizem, premiar os melhores e punir os medíocres. Do meu ponto de vista trata-se de uma fraude. O sucesso dos professores e de um sistema educativo avalia-se pelo grau de literacia de um povo, pelo seu nível cultural, pelos seus conhecimentos científicos e tecnológicos. Avalia-se pela capacidade das pessoas se adaptarem a novas situações e aprenderem novas ferramentas, pelo número de leitores de jornais, livros e revistas, pelo consumo de actividades culturais, pelos hábitos cívicos.
Há inúmeros factores que condicionam o sucesso de um sistema educativo. Talvez o mais fundamental seja a formação de professores, muito mais importante do que construir um modelo mais ou menos sofisticado, mais ou menos burocrático, de avaliação. Antes de avaliar, há que garantir que o avaliado teve a oportunidade de aprender bem. E. aí, há muito por fazer. Nas ciências exactas, que conheço melhor, a formação científica nas vias educacionais é pobre, sendo dada prioridade às áreas das ciências da educação e pedagogia. Assim, os professores são destros na forma, mas parcos nos conteúdos. E que dizer da formação contínua? O anterior modelo de avaliação tinha a virtude de exigir a frequência com aproveitamento de acções de formação, que permitiam, de certo modo, a reciclagem. Por que motivo não se procurou aperfeiçoar e credibilizar esse método?
Outro factor essencial é a motivação e o estatuto social dos professores. Neste aspecto, este Ministério e este governo deram um rude golpe na honorabilidade e no ânimo da classe docente. Directa ou indirectamente, dito de forma explícita ou insinuado, foi-se criando na opinião pública a ideia de que os professores eram privilegiados, preguiçosos e corporativistas, defendidos por sindicatos que tinham tanto de poderosos como de conservadores e imobilistas. O que se conseguiu? Criar "apenas" enormes sentimentos de revolta e injustiça, traduzidos nas duas maiores manifestações de que há memória e, também, na maior greve de sempre.
Um terceiro factor de grande relevância prende-se com as condições de trabalho no terreno. O número de alunos por turma, as condições físicas das instalações escolares, a quantidade e a qualidade do material didáctico (e a formação para o manusear), o número dos funcionários de acção educativa, a existência ou não de psicólogo/a e de professores/as do ensino especial, a qualidade das bibliotecas, os recursos informáticos... Quem, de boa fé, poderá dizer que tudo está feito nesses aspectos, nas nossas escolas?
O governo decidiu tomar o caminho repressivo, escolhendo uma avaliação estreita e punitiva. Preferiu ver os professores como empregados "malandros" em vez de parceiros de corpo e alma. O custo desta visão deformada será suportado por todos nós.

Robert Fripp