Quando a sociedade está doente, os extremismos avançam. É esta a ilação que tiro dos resultados das eleições legislativas.
O discurso radical de direita, personificado por Paulo Portas, foi bem recebido por um sector desencantado com o desnorte no PSD, ávido de mostrar um cartão vermelho ao PS e receptivo ao "vão trabalhar malandros" na contestação ao Rendimento Social de Inserção, à ideia já antiga que se combate o crime aumentando o músculo, à contestação oportuna a Maria de Lurdes Rodrigues e a um estilo comunicativo, simpático e arejado do líder.
No outro extremo, a manta de retalhos ideológica que é o BE conseguiu capitalizar bem o descontentamento provocado pela política do governo, nomeadamente na contestação às negociatas para os amigos, ao código laboral, à política educativa, à protecção aos grandes grupos económicos, com uma linguagem radical a sugerir ajustes de contas que encontrou eco em muitos que se sentiram oprimidos e vilipendiados por José Sócrates e os seus ministros. Acresce que a qualidade intelectual dos seus dirigentes, que se revela no discurso elaborado e corrente, atrai muitos dos simpatizantes de esquerda com um maior nível cultural.
A CDU mantém um discurso algo tímido e generalista, que não é tão "fashion" e vende menos, acabando por pagar o preço ao ser relegada para o último lugar na tabela dos partidos parlamentares, apesar de aumentar a votação e ganhar um deputado.
Quanto ao PS, nada a dizer para além do óbvio: sofre um revés provocado pela sua política destes quatro anos, sendo agora obrigado a negociar. Iremos ver como e com quem.