quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Ainda a avaliação: mais uma reflexão de um "outsider"

Têm sido usados inúmeros argumentos para justificar a avaliação dos professores no ensino básico e secundário. Um deles indica o exemplo do ensino superior, onde os professores são sujeitos a avaliações periódicas, seja para renovação de contrato, seja para progressão na carreira. Este exemplo parece-me falacioso, já que que avaliação destes docentes incide essencialmente no trabalho de investigação científica: quantos artigos publicaram e em que revistas, se de referência ou não, qual o número de citações de cada artigo pelos pares, quantas palestras ou seminários efectuaram, etc... Tanto quanto sei, a prestação de provas para progressão na carreira exige também a apresentação pública de um trabalho de investigação original. Só muito lateralmente o trabalho pedagógico como docente contribui para a avaliação. Poderemos argumentar que talvez fosse desejável que tivesse mais peso, mas os factos são estes.
Acontece que, como todos sabemos, os professores do ensino básico e secundário, regra geral, não estão ligados à investigação nas suas áreas curriculares, o que os torna um caso substancialmente diferente dos seus colegas do ensino superior e coloca logo à partida um problema de relevo: o da objectividade da avaliação. Todos nós tivemos bons e maus professores, uns de que gostámos muito e outros que detestámos, pelo que temos uma ideia empírica do que é um bom professor, ou mesmo um excelente professor. Mas será isso quantificável? Será que alguém que é um excelente professor num dado contexto de uma turma que seja ávida de saber e que tenha regras de conduta, não poderá ser um professor mediano ou mesmo incapaz de exercer a sua profissão numa turma com problemas sociais e económicos graves? E deveremos penalizar ou favorecer o avaliado pelo meio em que se insere?
Como quantificar e, portanto avaliar com total objectividade, muito mais do que o nível dos conhecimentos científicos, sem entrar em juízos de valor sobre a personalidade de cada um? E é através de 2 ou 3 aulas assistidas que se irá decidir sobre o trabalho de anos e perceber se um dado professor é excelente? Não será um excelente professor alguém que domina solidamente os conteúdos científicos, tem capacidade de os transmitir e cativa os alunos através dessa solidez, quando tal é possível? E não será também um excelente professor alguém que, com menos solidez científica, consegue ainda assim aproximar-se e interagir com os alunos mais difíceis, "agarrando-os"?
É por isso que, do meu ponto de vista, a avaliação dos professores do ensino básico e secundário deve possuir uma natureza muito mais informal que a dos colegas do ensino superior. Uma avaliação de índole essencialmente formativa, que detecte falhas e ajude a corrigi-las, com a excepção de momentos periódicos de formação para efeitos de actualização científica e pedagógica.

1 comentário:

uf! disse...

joão, estou com gripe, pelo que a minha passagem é rápida. Vou ter de voltar para acabar de ler os seus 2 últimos posts.
Mas uma coisa lhe posso garantir: mesmo quando se faz de conta que se avalia o desempenho docente ém termos didáctico-pedagógicos, no ensino superior, não é nada disso que se faz. A «Lição Pública» é uma mera demonstração de sapiência, no sentido estático (o «ensino», sem ter em conta a «aprendizagem»)
bjs